terça-feira, 27 de maio de 2014

MEMÓRIAS DE JONATHAN EDWARDS - CAP. 3

PRODUÇÕES RELIGIOSAS INICIAIS – “MISCELÂNEAS” – NOTAS SOBRE AS ESCRITURAS – INÍCIO DE SUA PREGAÇÃO – RESOLUÇÕES
Por Sereno E. Dwight
Uma preocupação consciente com o dever apareceu grandemente tanto nos primeiros quanto nos últimos dias de Jonathan Edwards. Na infância, o espírito de amor e obediência o guiava totalmente; e como aprendiz, descobriu cada disposição honrável para si, encorajando as pessoas que ansiosamente auxiliavam no seu progresso, e naquilo que era justamente considerado como a mais calorosa de suas incomuns realizações. A criança, o jovem, o homem, todos apresentaram à vista a mesma mente superior, em diferentes graus de avanço, mas ainda assim, semelhantes indicativas das mesmas excelências gerais.
Enquanto estava na faculdade, prestou a mais assídua e bem sucedida atenção a todos os seus deveres designados, e, em particular, ao estudo da filosofia mental e física. Contudo, ainda encontrou tempo para buscar um caráter mais elevado e espiritual. Sua inteira educação, desde a mais tenra infância, e os conselhos dos pais, bem como seus próprio sentimentos, o motivaram a essas buscas.
“Ler a Bíblia diariamente, e lê-la em conexão com outros livros religiosos, diligente e atentamente, no Dia do Senhor, era, nos primeiros dias da Nova Inglaterra, o dever habitual de toda criança. E a família de seu pai, ainda que atenta ao devido cultivo da mente e dos costumes, não havia perdido nem um pouco da severidade e do cuidado que caracterizavam os peregrinos. Os livros que ele achou na casa de seu pai, a conversa dos ministros que sempre recorriam a sua casa, os costumes do tempo, bem como a mais imediata influência da instrução e exemplo paternal, naturalmente incitavam uma mente como a sua para a precoce contemplação e investigação de muitas das verdades e princípios da teologia. Também tinha testemunhado na congregação de seu pai, antes de sua admissão na faculdade, diversos reavivamentos extensos da religião. E em dois deles as impressões sobre sua mente haviam sido extraordinariamente profundas e solenes. O nome familiarmente dado pelo povo comum da Nova Inglaterra a estes eventos – “uma atenção religiosa,” e “uma atenção geral para a religião” – indica a natureza deles. Uma pessoa pessoalmente familiarizada com estes eventos não precisa ser informada de que, durante seu progresso, as grandes verdades da religião, como ensinadas nas Escrituras, e como explicadas nos escritos dos teólogos, tornam-se os objetos do interesse geral e intenso, e de estudo prático minucioso. Ou ainda que o conhecimento adquirido por todo um povo em tais tempos, em um período comparativamente curto, com frequência excede as aquisições de muitos anos anteriores. Com todas estas coisas em vista não surpreende que a estes dois tipos de leitura ele tenha se devotado muito cedo, com grande diligência e sucesso.”
Duas de suas primeiras Resoluções se relacionam a esse assunto, nas quais se propõe “a estudar as Escrituras tão contínua, constante e frequentemente a ponto de poder encontrar e claramente perceber a mim mesmo crescendo no conhecimento dela.” Nunca perdeu de vista esta resolução. Em 8 de junho de 1723, também propôs que, a qualquer momento que se achasse em uma disposição débil e relaxada, leria novamente sua própria obra “Anotações e Reflexões de Natureza Religiosa,” a fim de animá-lo ao seu dever. Estas “Anotações e Reflexões” eram muito numerosas. O primeiro manuscrito de suas “Miscelâneas” está em formato de fólio [livro numerado por folhas (frente e verso) e não por páginas], e consiste de quarenta e quatro folhas de papel almaço, escritas separadamente, e costuradas. Quando iniciou a obra, obviamente não suspeitava do tamanho que ela tomaria, nem tinha ele formado o plano final de arranjo. Intitulou o primeiro artigo como “Da Santidade”, e tendo finalizado-o, e rabiscado um linha de separação através da página, começou o segundo: “Da mediação e satisfação de Cristo.” O mesmo ocorre com o terceiro e quarto. O quinto ele escreve, sem uma linha de separação, em grandes letras: “Felicidade Espiritual.” Após este, o assunto de cada novo artigo está impresso, ou escrito, em letras grandes. Seu primeiro artigo foi escrito na segunda página de uma folha de papel solta; e tendo escrito na segunda, terceira e quarta páginas, voltou para a primeira. Começou a numerar seus artigos pelas letras do alfabeto, a, b, c, e tendo finalizado, iniciou com uma letra dupla, aa, bb, cc. Quando a sequência estava findada, descobrindo que sua obra estava alargada, tomou os números regulares 1, 2, 3, etc., e a este plano, tanto em relação aos assuntos quanto aos números, posteriormente deu prosseguimento.
O início da obra está escrito em uma caligrafia notavelmente pequena e arredondada, quase a mesma com a qual são escritas suas primeiras produções. Isto se estende até por volta de 150 artigos, e, após isso, mudou perceptivelmente para uma caligrafia de algum modo mais formada e fluente. Estes parecem obviamente ter sido escritos durante os últimos anos de sua vida na faculdade, e dos anos de sua residência na faculdade, no Bacharelado de Artes. Largas porções desta obra serão encontradas na presente edição de suas Obras, e um número daquelas dos primeiros artigos. Tais são as Observações Miscelâneas e as Anotações Miscelâneas, vol. ii, pág. 459 e as Miscelâneas, pág 525. Nestas serão encontrados muitos de seus mais originais e profundos pensamentos e discussões sobre assuntos teológicos.
Seu estudo regular e diligente da sagrada Escritura cedo o levou a descobrir que ele abria diante de si um campo quase ilimitado de investigação e pesquisa. Algumas passagens ele descobriu terem sido traduzidas incorretamente. Muitas eram bastante obscuras, e difíceis de explicar. Em muitas havia aparentes inconsistências e contradições. Muitas haviam sido há muito empregadas como provas de doutrinas e princípios, aos quais não faziam nenhuma referência possível. As palavras e frases, bem como os sentimentos e narrativas, em um aspecto, ele via ilustrados e interpretados por outro. Percebeu que o Antigo Testamento, em sua linguagem, história, doutrinas e culto, em sua alusão a costumes e maneiras, em suas profecias, tipos e imagens, era introdutório e explicativo para o Novo [Testamento]; enquanto que o Novo, ao apresentar a plena completude de todo o plano e desígnio de seu Autor comum, desvendava a verdadeira intenção e relação de cada parte do Antigo. Encarando o volume sagrado com a mais alta veneração, pareceu ter resolvido, enquanto era membro da faculdade, que iria, até onde fosse possível, ficar possuído, em cada parte que lia, do verdadeiro sentido de seu Autor. Com esta perspectiva, começou sua “Notas sobre as Escrituras”, obviamente tornando sua regra padrão estudar cada passagem que ele lia que apresentava a menor dificuldade para a sua mente, ou que soubesse ter sido reputada difícil por outros, até que tal dificuldade fosse satisfatoriamente removida.
O resultado de suas investigações ele regularmente, e à época, confiava à escrita; a princípio em meias folhas separadas, em formato A5. Tendo, porém, descoberto a inconveniência deste método em seus outros escritos juvenis, logo formou pequenos panfletos de folhas, que posteriormente foram transformadas em volumes. Alguns dos artigos, cerca de cinquenta, parecem ter sido escritos enquanto ainda estava na faculdade. O restante, enquanto se preparava para o ministério e durante sua vida subsequente. Que ele não tinha suspeitas do tamanho que a obra tomaria é evidente, e se posteriormente planejou a sua publicação, como uma ilustração das mais difíceis e obscuras passagens da Bíblia, talvez não possa ser determinado com certeza. Alguns dos artigos de natureza histórica ou mitológica são marcados com aspas dos escritos de outros, e estão omitidos na presente edição de suas Obras. O leitor, após investigar a obra, ficará satisfeito que sejam frutos de sua própria investigação, e que seu modo de remover as dificuldades era – não como é com frequência, com disfarce ou má representação delas, mas lhes dando sua plena força, e encarando-as com argumentos limpos. Talvez nenhuma coleção de notas sobre as Escrituras tão originais possa ser encontrada. A partir do número prefixado a cada artigo, se descobrirá ser fácil selecionar aquelas que foram resultado de seus labores iniciais. Tal plano de investigar e explicar as dificuldades do livro sagrado, em período tão precoce da vida, provavelmente não encontra exemplo igual, e demonstra uma maturidade de realizações morais e intelectuais raramente igualada. Entre as mais interessantes e capazes destas investigações se descobrirá a discussão sobre o sacrifício da filha de Jefté (Jz 11:29-40) e sobre o princípio apresentado por Paulo em Romanos 8:28: Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Esta, por estar contida em sua carta ao Sr. Gillespie, de 4/9/1747, está omitida nas notas sobre as Escrituras.”
A classe da qual foi um membro terminou seu curso superior regular em setembro de 1720, antes que tivesse dezessete anos de idade. Nesse período, e por um longo tempo posterior, o único exercício - à exceção das Teses Latinas, dadas no início da classe de bacharelado - era o Salutatory [uma declamação de boas vindas], o qual também era um Valedictory [uma declamação de despedida, geralmente ao final da graduação], uma Oração em Latim. Ele foi premiado neste exercício, por ter obtido o mais alto conceito como erudito entre os membros de sua classe.
Ele residiu na faculdade por quase dois anos depois de sua primeira formação, preparando-se para o ofício do ministério. Após isso, tendo passado pelos testes de costume, recebeu a licença para pregar. Isto ocorreu aos dezenove anos de idade. Devido a uma solicitação de diversos ministros na Nova Inglaterra, a quem foi confiado que agissem em prol dos presbiterianos em Nova York, ele foi para aquela cidade no início de agosto de 1722, e lá pregou, com grande aceitação, por cerca de oito meses. Enquanto esteve lá, residiu alegremente na casa da Sra. Smith, que, juntamente com seu filho, o Sr. John Smith, ele considerava como pessoas de piedade incomum e pureza de vida. Com eles formou uma íntima amizade cristã. Lá também encontrou um número considerável de pessoas, membros daquela igreja, que exibiam o mesmo caráter. Com estes aproveitou, em alto grau, todas os deleites e vantagens do relacionamento cristão. Sua ligação pessoal a eles tornou-se forte, e o interesse deles nele como homem e pregador foi tal que calorosamente solicitaram que com eles permanecessem pelo resto da vida. Declinar deste cândido convite foi muito aflitivo para seus sentimentos; entretanto, devido à pequenez dessa congregação, e de algumas dificuldades peculiares que a acompanhavam, não pensou que houvesse uma perspectiva racional de utilidade e conforto lá. Após uma despedida muito dolorosa dos seus bons amigos, sob cujo hospitaleiro teto tinha residido por tanto tempo e com tanta felicidade, deixou a cidade em 26 de abril, de barco, e alcançou a residência de seu pai na quarta-feira, dia primeiro de maio. Lá passou o verão em rigoroso estudo, durante o qual foi de novo solicitamente requisitado pela congregação em Nova York, para que retornasse àquela cidade, e se estabelecesse entre eles. Contudo, suas perspectivas anteriores não se alteraram, portanto, ainda que fortemente inclinado por seus sentimentos para satisfazê-los, não pôde aceder a seus desejos. É provável que em nenhuma outra época de sua vida teve mais altas vantagens para a contemplação e deleite espiritual do que no período antes mencionado. Ele foi a Nova York em uma disposição deleitosa de mente. Lá encontrou um pequeno rebanho de Cristo, constrangido com o senso de sua própria fraqueza a “habitar juntamente em unidade,” e a sentir um senso prático de dependência de Deus. Estava no meio de uma família, cuja influência diária servia apenas para refrescar e santificar. Também tinha muito tempo livre para leitura religiosa, meditação, e oração. Nestas circunstâncias, a presente do Consolador parece ter sido uma realidade diária; do que encontrou evidência naquela pureza de coração que capacita os que a possuem a ver Deus, na paz que vai além de todo entendimento, e na alegria da qual não participa o estranho [Pv 14:10].
 Durante sua preparação para o ministério, sua residência em Nova York, e a residência subsequente na casa de seu pai, ele formou uma série de resoluções, perfazendo o número de setenta, que destinavam-se obviamente a si próprio somente, para regular seu próprio coração e vida, mas também eram apropriadas, devido à simplicidade cristã e ao caráter espiritual, a serem extremamente úteis para outros. Destas, as primeiras trinta e quatro foram escritas antes de 18 de dezembro de 1722, o tempo no qual seu Diário, como agora existe, começa. O tempo em particular e a ocasião da composição das demais, serão encontrados nesta mui interessante narrativa, na qual também estão muitas outras regras e resoluções, direcionadas à regulação de suas próprias afeições, de talvez igual excelência. Deve ser lembrado que foram todas escritas antes dos seus vinte e dois anos de idade. Uma vez que era inteiramente avesso à toda profissão [pública] e ostentação; e uma  vez que estas resoluções eram claramente dedicadas para serem vistas por ninguém, senão por ele mesmo – à exceção do olho que é onisciente – elas podem ser consideradas com justiça como a base de sua conduta e caráter, o plano pelo qual governava tanto as ações públicas quanto as secretas de sua vida. Como tais, interessarão profundamente ao leitor, não apenas por desvelarem a mais íntima mente de seu autor, mas à medida em que mostram, de maneira muito notável e convincente para a consciência qual é a verdadeira base da excelência grandiosa e distinta.
Ele estava muito bem familiarizado com a fraqueza e fragilidade humana, mesmo onde as intenções são muito sinceras, para adentrar em quaisquer resoluções precipitadamente, ou devido à confiança em sua própria força. Portanto, na abertura, olhou para Deus por ajuda, quem somente pode conceder sucesso no uso dos melhores meios, e na pretendida realização dos melhores propósitos. Isto ele põe no cabeçalho de todas as outras importantes regras: que sua inteira dependência estava na graça de Deus, enquanto ainda se propõe a recorrer à frequente e séria investigação delas, a fim de que pudessem se tornar o guia habitual de sua vida.

RESOLUÇÕES


“Estando sensível de que sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus, eu, humildemente rogo que, pela Sua graça, me capacite a manter estas Resoluções, até onde forem conforme sua vontade, por amor de Cristo.
Lembre-se de ler estas Resoluções uma vez por semana.
1. Resolvi, Que farei o que quer que ache seja para a maior glória de Deus, e meu próprio bem, ganho, e prazer, durante toda minha existência, sem qualquer consideração acerca do tempo, quer agora, ou daqui a muitas miríades de eras. Resolvi, fazer o que quer que ache ser meu dever, e para o bem e vantagem da humanidade em geral. Resolvi assim o fazer, sejam quais forem as dificuldades que encontre, quantas e por maiores que sejam.
2. Resolvi, Continuamente me esforçar para descobrir alguma nova maneira e invenção para promover as coisas pré-mencionadas.
3. Resolvi, Se alguma vez cair e permanecer na apatia, a ponto de negligenciar qualquer porção destas Resoluções, arrepender-me de tudo que possa me lembrar, quando cair em mim.
4. Resolvi, Nunca fazer qualquer tipo de coisa, seja na alma ou no corpo, menos ou mais, a não ser o que tenda para a glória de Deus, nem vivenciá-la, ou permiti-la, se puder evitá-la.
5. Resolvi, nunca perder um instante do tempo, mas aproveitá-lo do mais frutífero modo que puder.
6. Resolvi, viver utilizando todas as minhas forças, enquanto viver.
7. Resolvi, Nunca fazer qualquer coisa que temeria fazer se fosse a última hora de minha vida.
8. Resolvi, Agir, em todos os aspectos, tanto na fala quanto na ação, como se ninguém fosse tão vil quanto eu, e como se houvesse cometido os mesmos pecados, ou tivesse as mesmas enfermidades ou faltas que os outros; e que não deixarei que o conhecimento de suas faltas promova nada em mim, senão vergonha, e que se provem apenas como ocasião para minha confissão de meus próprios pecados e misérias a Deus. Vid. 30 de julho.
9. Resolvi, pensar bastante, em todas as ocasiões, sobre minha morte, e das circunstâncias comuns que a acompanham.
10. Resolvi, quando sentir dores, pensar nas dores do martírio, e do inferno.
11. Resolvi, quando pensar em alguma questão na teologia, a ser solucionada, imediatamente fazer o que puder em relação à solução, se as circunstâncias não impedirem.
12. Resolvi, se nisso tiver prazer como satisfação do orgulho, ou vaidade, ou por qualquer motivo semelhante, imediatamente deixar de lado.
13. Resolvi, esforçar-me para descobrir objetos idôneos de liberalidade e caridade.
14. Resolvi, nunca fazer algo por vingança.
15. Resolvi, nunca permitir mínimos movimentos de ira direcionados a seres irracionais.
16. Resolvi, nunca falar mal de ninguém, na medida em que isto tenderá para sua maior ou menor desonra, por nenhum motivo a não ser por algum bem real.
17. Resolvi, que viverei do modo pelo qual desejarei ter vivido quando vier a morrer.
18. Resolvi, viver de tal modo, a todo tempo, como achar ser o melhor nas minhas mais devotas disposições, e quando tenho as mais claras noções das coisas do evangelho e do outro mundo.
19. Resolvi, nunca fazer algo que temeria fazer se esperasse que não haveria mais de uma hora para que ouvisse a última trombeta.
20. Resolvi, manter a mais severa temperança no comer e no beber.
21. Resolvi, nunca fazer algo que, se visse em outra pessoa, me desse um justo motivo para desprezá-la, ou de alguma maneira ter pensamentos maldosos a respeito dela.
22. Resolvi, esforçar-me para obter para mim mesmo o máximo de felicidade possível no mundo vindouro, e isto com todo poder, força, vigor e veemência, até mesmo com violência [veja Mt 11:12, na ARC] de que seja capaz, ou que possa exercer sobre mim mesmo, de qualquer modo imaginável.
23. Resolvi, frequentemente tomar alguma ação deliberada, que parece improvável de ser realizada para a glória de Deus e rastreá-la de volta até às suas intenções, desígnios e propósitos originais; e se descobrir que não tenha sido para a glória de Deus, reputá-la como uma quebra da quarta Resolução.
24. Resolvi, quando fizer alguma ação patentemente maligna, traçá-la de volta até chegar a sua causa original; e, então, tanto lutar cuidadosamente para não mais realizá-la, quanto fazê-lo pela oração, com toda força contra a sua origem.
25. Resolvi, examinar, cuidadosa e constantemente o que há em mim que me faz, por pouco que seja, duvidar do amor de Deus; e, após esse exame, direcionar toda minha força contra isso.
26. Resolvi, lançar fora as coisas que descobrir abaterem minha segurança [da salvação].
27. Resolvi, nunca omitir algo voluntariamente, exceto se tal omissão for para a glória de Deus. Também resolvi examinar minhas omissões.
28. Resolvi, estudar as Escrituras tão constante, firme e frequentemente, a ponto de poder descobrir e claramente perceber a mim mesmo crescendo no conhecimento dela.
29. Resolvi nunca contar como uma oração, nem deixar passar por oração, nem ao menos como um pedido de oração o que for feito de tal modo que eu não possa esperar que Deus o responderá; nem como confissão algo que eu não espere que Deus aceitará.
30. Resolvi, lutar a cada semana para ser levado a um lugar mais alto na religião, e a um mais alto exercício da graça do que tive na semana anterior.
31. Resolvi, nunca dizer nada contra qualquer criatura, senão quando for perfeitamente coerente com o mais alto grau da honra cristã, e com o amor pela humanidade, e com a mais rebaixada humildade, e com o senso de minhas próprias faltas e falhas, e conforme à Regra de Ouro; sempre, quando tiver dito algo contra alguém, resolvi sondar rigorosamente a isto pelo teste desta Resolução.
32. Resolvi, ser rigorosa e firmemente fiel à minha crença, para que o disposto em Pv 20:6: “Mas o homem fidedigno, quem o achará?” não seja parcialmente cumprido em mim.
33. Resolvi, fazer o que puder para promover, manter e preservar a paz, quando isto puder ser feito sem um prejuízo correspondente em outros aspectos. 26 de dez. 1722.
34. Resolvi, nas narrativas, nunca falar senão o que for a pura e simples verdade.
35. Resolvi, a qualquer momento que questionar se fiz o que era meu dever fazer, de tal modo que minha paz e calma seja por isto perturbada, registrar isso, bem como por que maneira a questão foi resolvida. 18 de dez. 1722.
36. Resolvi, Nunca falar mal de ninguém, exceto se tiver um bom motivo em particular para isso. 19 de dez. 1722.
37. Resolvi, inquirir a cada noite, e quando for me deitar, em que fui negligente, - que pecado cometi, - e em que tenho negado a mim mesmo; isso também ao fim de cada semana, mês e ano. 22 e 26 de dez., 1722.
38. Resolvi, jamais proferir algo que seja cômico, ou matéria de riso, no Dia do Senhor. 23 de dez., 1722, Dia do Senhor, à noite.
39. Resolvi, nunca fazer algo de que eu questione a licitude, ou que pretenda, ao mesmo tempo, considerar e examinar posteriormente se aquilo é lícito ou não; a menos que eu questione a licitude da omissão.
40. Resolvi, inquirir, toda noite antes de ir dormir, se agi do melhor modo possível, com respeito ao comer e ao beber. 7 de jan. 1723.
41. Resolvi, perguntar a mim mesmo, ao final de cada dia, semana, mês e ano, em que poderia, de algum modo, ter agido melhor. 11 de jan., 1723.
42. Resolvi, frequentemente renovar a minha dedicação a Deus, que foi feita no meu batismo, e que solenemente renovei quando fui recebido na comunhão da igreja, e que solenemente refiz nesta data de 12 de janeiro de 1723.
43. Resolvi, nunca, daqui por diante, até eu morrer, agir como se pertencesse de algum modo a mim mesmo, mas sim inteira e totalmente a Deus. Sábado, 12 de jan., 1723.
44. Resolvi, que nenhum outro fim senão o da religião terá alguma influência em quaisquer de minhas ações; e que não tomarei nenhuma atitude, em circunstância alguma, senão a que tenha como propósito a religião. 12 de janeiro, 1723.
45. Resolvi, nunca permitir qualquer prazer ou dor, alegria ou luto, nem afeição alguma, nem qualquer grau de afeição, nem qualquer circunstância a ela relacionada, senão o que for favorável à religião. 12 e 13 de jan., 1723.
46. Resolvi, jamais permitir a menor medida de preocupação ou inquietação a meu pai ou mãe. Resolvi, não permitir também os efeitos disso, até mesmo a menor alteração da fala, ou movimento dos meus olhos; e também a ser especialmente cuidadoso nisso com relação aos demais membros de nossa família.
47. Resolvi, me esforçar ao máximo para negar tudo o que não seja condizente com um temperamento totalmente doce e benevolente, tranquilo, pacífico, contente e relaxado, compassivo e generoso, humilde e manso, submisso e bondoso, diligente e frutífero, caridoso e mesmo paciente, moderado, perdoador e sincero. Resolvi fazer, a todo tempo, o que tal temperamento me conduzir a fazer; e examinar estritamente, ao final de cada semana, se assim o tenho feito. Na manhã do Dia do Senhor. 5 de maio, 1723.
48. Resolvi, constantemente, com máxima cortesia e diligência, e o mais severo escrutínio, investigar o estado de minha alma, para que saiba se verdadeiramente tenho um interesse em Cristo ou não; para que, quando vier a morrer, não tenha nenhuma negligência nesse assunto de que possa me arrepender. 26 de maio, 1723.
49. Resolvi, que isso [o exposto na Resolução anterior] jamais ocorrerá, se puder evitá-lo.
50. Resolvi que agirei do modo que pensar ter sido o melhor e mais prudente, quando chegar ao mundo porvir. 5 de julho, 1723.
51. Resolvi que agirei de tal modo, em todo os aspectos, do modo que desejaria ter agido, se ao fim viesse a ser condenado. 8 de julho, 1723.
52. Frequentemente ouço pessoas idosas dizerem como viveriam, se pudessem viver suas vidas novamente: Resolvi, que viverei de tal maneira como puder pensar ter desejado viver, supondo que viva até à velhice. 8 de julho, 1723.
53. Resolvi, aproveitar cada oportunidade, quando estiver em minhas melhores e mais felizes disposições de mente, para lançar e aventurar minha alma ao Senhor Jesus Cristo, confiar e entregar-me, e consagrar-me inteiramente a ele; para que por esse modo possa estar certo de minha segurança, sabendo que confio em meu Redentor. 8 de julho, 1723.
54. Resolvi, que quando ouvir algo falado favoravelmente de alguma pessoa, se achar que isso seria louvável em mim, esforçar-me para imitá-la. 8 de julho, 1723.
55. Resolvi, esforçar-me ao máximo para agir como puder pensar que o faria, se já houvesse visto a felicidade do céu e os tormentos do inferno. 8 de julho, 1723.
56. Resolvi, nunca abandonar, e, nem sequer por um instante, negligenciar minha luta contra minhas corrupções, independentemente das derrotas que sofra.
57. Resolvi, quando sentir as desgraças e adversidades, examinar se fiz o meu dever, e resolver fazê-lo e deixar que o evento ocorra como a Providência o ordenar. Não irei, até onde puder, me preocupar com nada, a não ser com meu dever e meu pecado. 9 de junho, e 13 de julho, 1723.
58. Resolvi, não apenas me refrear de uma aparência de desgosto, petulância e ira na conversação, mas exibir um ar de amor, alegria e benignidade. 27 de maio e 13 de julho, 1723.
59. Resolvi, quando estiver mais consciente das provocações à uma disposição irritada e à ira, que lutarei o máximo para me sentir e agir de boa vontade; sim, nesses momentos, resolvi manifestar boa natureza, embora pense que em outros aspectos isso seria desvantajoso, do mesmo modo que poderia ser imprudente em outras ocasiões. 12 de maio, 11 e 13 de julho.
60. Resolvi, quando meus sentimentos começarem a parecer, por pouco que seja, desordenados, quando estiver cônscio da menor inquietude interior, ou da menor irregularidade exterior, então me submeterei ao mais estrito exame. 4 e 13 de julho, 1723.
61. Resolvi, que não darei lugar àquela torpeza que descubro afrouxar e relaxar minha mente de estar plena e fixamente colocada na religião, seja qual for a desculpa que para isso tenha, ao pensar que o que minha torpeza me inclinar a fazer é o melhor a ser feito, e coisas semelhantes. 21 de maio e 13 de julho, 1723.
62. Resolvi, nada fazer senão o que for meu dever, e, de acordo com Ef 6:6-8 [não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus;  7 servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens,  8 certos de que cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá isso outra vez do Senhor, quer seja servo, quer livre.], fazê-lo alegre e voluntariamente, como ao Senhor e não a homens: sabendo que qualquer boa coisa que o homem faz, o mesmo se receberá do Senhor. 25 de junho e 13 de julho, 1723.
63. Na hipótese de que jamais houve um indivíduo no mundo, a qualquer tempo, que foi propriamente um cristão completo, que tenha sido em todos os aspectos de um caráter justo, tendo o cristianismo sempre brilhando em seu verdadeiro esplendor, e mostrando-se excelente e amável, de qualquer parte e ângulo observado: Resolvi, agir de tal maneira que lute com todas as minhas forças para ser esse cristão, ainda que seja o único de minha época. 14 de jan. e 13 de jun., 1723.
64. Resolvi, quando descobrir aqueles “gemidos inexprimíveis”, de que fala o apóstolo, e o que fala o salmista sobre “consumida está a minha alma por desejar”, que irei promovê-los com o máximo de minhas forças; e que não serei remisso em prontamente me esforçar para liberar meus desejos; nem deixarei de perseverar nesse sentido. 23 de jul. e 10 de ago., 1723.
65. Resolvi, nisto me exercitar, por toda a minha vida, isto é, com a maior abertura de que seja capaz, declarar meus caminhos a Deus, e abrir minha alma para ele: todos os meus pecados, tentações, dificuldades, dores, esperanças, desejos, e tudo, e cada circunstância, de acordo com o sermão do Dr. [Thomas] Manton no salmo 119. 26 de jul. e 10 de ago., 1723.
66. Resolvi, que me esforçarei sempre para manter um aspecto benigno, no agir e no falar, em todos os lugares, e em todas as companhias, exceto se meu dever exigir que faça o contrário.
67. Resolvi, após aflições, inquirir elas me trouxeram de bom, e o que poderia ter obtido delas.
68. Resolvi, confessar francamente a mim mesmo tudo o que achar em mim, quer de enfermidade ou pecado; e, se isto também se relacionar à religião, também confessar tudo a Deus, e implorar o seu auxílio. 23 de jul. e 10 de ago., 1723.
69. Resolvi, sempre fazer aquilo que desejaria ter feito quando vir outros realizando. 11 de ago. 1723.
70. Que sempre haja algo benevolente em tudo o que eu falar. 17 de agosto de 1723.

Estas foram as excelentes Resoluções tomadas por Jonathan Edwards em um período precoce de sua vida, e que foram posteriormente encaradas por ele não como registros menos importantes, mas como contendo os maiores princípios de sua vida espiritual. Um profundo e extenso conhecimento do coração é manifesto nessas Resoluções; uma convicção de seus defeitos; uma vívida apreensão de seus perigos; e um intenso cuidado de que todas as suas inclinações fossem em direção a Deus, e a toda coisa exigida pela sua santa vontade. Há uma notável ternura de consciência descoberta em cada exemplo que foi declarado. O homem que pôde assim escrever não era alguém que poderia facilmente menosprezar o pecado, ou que poderia adentrar em qualquer de seus caminhos sem a imediata reprovação de uma consciência ofendida. Este santo homem tremia mesmo ao contemplar à distância o pecado; não poderia voluntariamente se aproximar e contemplar suas seduções. Acostumado a respirar uma atmosfera santa, a menor nuvem de corrupção imediatamente afetava sua disposição espiritual. Não conhecia felicidade senão a que estava conectada com uma consciência vazia de ofensa. Todas estas regras eram as sugestões da consciência de um caráter altamente iluminado. Também indicam um senso constante da presença e das observações exatas do Perscrutador de todos os corações. Ele vivia como se visse o que é invisível; tinha o Senhor sempre diante de si, o encorajando em todas as ocasiões para um ávido zelo pela glória de Deus, o objeto maior para o qual desejava viver tanto na terra quanto no céu, objeto que quando era comparado a todas as outras coisas à sua vista elas nada mais eram do que ninharias. Se isso era alcançado, todos os seus desejos eram satisfeitos; mas se era perdido, ou alcançado imperfeitamente, sua alma se enchia de angústia. Essas Resoluções dão amplo testemunho do quanto o autor adentrou no espírito de 1 Co 10:31: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.” Também ilustram suas opiniões sobre a importância da consistência do caráter. Ele não se contentava com visões corretas da verdade, ou qualquer tipo de profissão exterior, aparte da santa consistência de caráter. Estudava, admirava e exibia a influência do evangelho; um andar “digno da vocação para a qual foi chamado” era o objeto elevado ao qual ardentemente aspirava. Ele bem sabia que se requer dos seguidores de Cristo que “preservem a palavra da vida,” que brilhem como luzeiros do mundo, que instruam pelos seus exemplos bem como por suas palavras; e desejava honrar a Deus apresentando aos membros do reino espiritual, e também ao mundo, um modelo que pudesse declarar a realidade e beleza da religião. Além disso, é manifesto a partir destas Resoluções, que sua mente era muito ansiosa para avançar diariamente em cada ramo da santidade. Havia nele um princípio espiritual ativo, que o fazia romper com todos os obstáculos do caminho. Não conseguia se contentar quando ainda restava nele um pecado, enquanto uma graça estava em falta, ou um mero dever realizado, porém imperfeitamente. Aspirava pela santa perfeição do mundo celestial, e antecipava com alegria aquele dia em que despertaria com a semelhança divina. Não é surpresa que, com estes sentimentos e opiniões tenha alcançado um caráter exaltado raramente igualado e talvez nunca superado.

As Resoluções que deram ensejo a estas reflexões são provavelmente “para pessoas de qualquer idade, mas em especial para as jovens, o melhor resumo não inspirado do dever cristão, a melhor instrução para altas realizações na virtude evangélica, que a mente humana até aqui foi capaz de formar.” Elas desvendam o próprio caráter de seu autor, e são admiravelmente calculadas para aprimorar o caráter de todo leitor que teme o pecado, e se regozija na pureza da vontade Divina.

Um comentário:

  1. Meu querido irmão Tiago, muito obrigado por suas traduções de Jonathan Edwards. Sempre quis ler os sermões desse Puritano e muito mais sua Biografia! Obrigado mesmo!!!

    Melksedek - Barueri SP

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