sexta-feira, 13 de junho de 2014

MEMÓRIAS DE JONATHAN EDWARDS - CAP. 4

SEU DIÁRIO
POR SERENO E. DWIGHT

As opiniões e práticas de homens de igual excelência têm variado consideravelmente com relação a manter um diário. Muitos jamais tentaram fazê-lo. Alguns que em um período da vida iniciaram um, mais tarde, por motivos diversos, declinaram. Outros aderiram com constância a um costume que certamente tem a sanção de alguns dos mais eminentes nomes na igreja de Deus. De pronto se admite que muitos diários foram mantidos de modo bastante irrefletido, e ainda é matéria de profundo pesar que tais registros tenham sido publicados, não apenas para a tristeza de mentes inteligentes, mas para o dano da própria religiao. Estes também levantaram o preconceito contra todos os registros similares.
Contudo, há alguns diários publicados de homens excelentes que expressam tanto sólido juízo quanto fervente piedade, e têm sido fonte de tanta utilidade que um equilíbrio mais do que justo é apresentado contra obras que possuem descrições opostas. Ninguém se dispõe a lamentar a publicação de partes dos diários de Philip e Matthew Henry, [David] Brainerd, Doddridge ou de Joseph Williams e alguns outros. Estes escritos ilustram o poder interior e exterior da piedade, refletem honra sobre esses mesmo indivíduos, e geram um poderoso e santo estímulo para as mentes dos demais cristãos. O Diário de Jonathan Edwards corresponde em sua excelência a estes assim referenciados, e será avaliado com os mesmos sentimetnos, e espera-se que conduza aos mesmos efeitos benéficos.
O Diário começa em 18 de dezembro de 1722, quando tinha dezenove anos. Até o dia 15 de janeiro está escrito em duas folhas pequenas; e o restante está em um livro. Como começa abruptamente, e tão proximo quanto possível do topo da página, o seu início sem dúvidas está perdido, e não é improvável que, da maneira em que originalmente o escreveu, remontasse no mínimo para a época de sua preparação ao ministério.
Seu propósito era, como logo se verá, para uso privado apenas; e se estivesse consigo, no fim de sua vida, não é improvável que pudesse ter sido destruído. “Contudo, tudo o que é reputado para o bem, e é perfeitamente coerente com a verdadeira reputação do autor, pode ser publicado com honra, qualquer que tenha sido seu propósito enquanto o escrevia. Os melhores dos homens, na realidade, têm pensamentos, opiniões e sentimentos que são perfeitamente apropriados e retos em si mesmos, que, contudo, seria totalmente impróprio se fossem revelados a outros. Mas um homem de sadia discrição terá cuidado de que nada desta natureza esteja ao alcance de um acidente [isto é, de alguém descobrir, por acidente, o conteúdo]. O que o Sr. Edwards queria manter escondido de todos os olhos, à exceção dos seus, ele o escreveu em símbolos. Em uma ocasião, após haver escrito consideravelmente dessa forma, acrescenta esta observação em sua escrita costumeira: ‘Lembre-se de agir de acordo com Pv 12:23. O homem prudente oculta o conhecimento.’
O leitor, enquanto investiga o Diário em suas várias partes, será afetado pelas seguintes características: Ele consiste de fatos; e de sólido pensamento, ditado por um profundo espírito religioso, e não por mera expressões de sentimento, ou reflexões ou exortações morais triviais. Era direcionado a si mesmo apenas, e não para seus amigos ou para o público. É uma exibição de simples pensamento, sentimento e ação de um homem, que não tem consciência de como eles parecem, senão para si e para Deus. Não são as observações de alguém desejoso de ser visto como humilde, exaltando a própria humildade. Se esperássemos um homem de simplicidade e piedade cristã trazer todos os movimentos secretos de sua própria alma à luz clara e forte dos céus, e sob ela inquirir com um olhar afiado e honesto, e com um coração contrito, para que fosse humilhado e aperfeiçoado, este relato [do Diário] é o que tal homem escreveria:”

Dezembro de 1722,
18 de dez. Hoje escrevi a 35ª Resolução. A razão pela qual eu, por pouco que seja, questiono meu interesse no amor e favor de Deus é:
1. porque não consigo falar tão plenamente da minha experiência dessa obra preparatória, de que falam os teólogos;
2. não lembro de ter experimentado a regeneração, naqueles passos exatos que os teólogos falam que geralmente ocorre;
3. não sinto as virtudes cristãs de maneira sensível, especialmente a fé. Temo que sejam apenas afeições exteriores hipócritas, que os ímpios podem sentir tanto quanto os outros. Elas não parecem ser suficientemente interiores, plenas, sinceras, inteiras e de coração. Não parecem tão substanciais, e trabalhadas na minha própria natureza, como eu gostaria;
4. porque sou, às vezes, culpado de pecados de omissão e comissão. Ultimamente tenho duvidado se não transgredi na maledicência. Hoje, resolvi: Não.
19 de dez. Hoje escrevi a 36ª Resolução. Ultimamente tenho estado perplexo, ao ver a doutrina do galardão celestial sendo questionada; porém agora já superei quase que por completo a dificuldade.
20 de dez. Hoje questionei se, de algum modo, não fui culpado de negligência ontem, e pela manhã de hoje; mas, resolvi: Não.
21 de dez, sexta-feira. Hoje e ontem, estive extremamente apático, seco e morto.
22 de dez. sábado. Hoje, reavivado pelo Espírito Santo de Deus; afetado com o senso da excelência da santidade, senti mais o exercício de amor a Cristo do que de costume. Também senti visível arrependimento pelo pecado, porque cometido contra um Deus tão misericordioso e bom. Esta noite, fiz a 37ª Resolução.
Dia do Senhor, à noite, 23 de dez. Fiz a 38ª Resolução.
Segunda-feira, 24 de dez. Pensamentos mais elevados do que os de costume acerca da excelência de Cristo e de seu reino. Concluí por observar, ao fim de cada mês, o número de quebras de resoluções, para ver se aumentaram ou diminuíram, a partir de hoje, e, a partir disso, calcular o crescimento mensal em uma base semanal, e a partir do todo, meu aumento anual, começando do dia de ano-novo.
Quarta-feira, 26 de dez. Ontem, cedo pela manhã, fui neutralizado pela dor de cabeça, que durou o dia inteiro (embora espere que não tenha perdido muito). Fiz uma adição à 37ª Resolução, relacionada às semanas, meses e anos. À noite. Fiz a 33ª Resolução.
Sábado, 29 de dez. Por volta do por do sol de hoje estive apático e sem vida.
Anos de 1722-1723
Terça-feira, 1º de jan. Estive apático por diversos dias. Examinei se não fui culpado de negligência no dia de hoje e resolvi: Não.
Quarta-feira, 2 de jan. Apático. Descubro, por experiência, que, ainda que faça resoluções, e o que quer que seja, com inúmeras ideias, tudo é nada, e sem propósito algum, sem os movimentos do Espírito de Deus. Pois se o Espírito Santo se ausentasse sempre de mim, como o fez na semana passada, não obstante tudo o que eu faça, não cresceria, mas definharia, e pereceria miseravelmente. Percebo que, se Deus retirasse seu Espírito um pouco mais, não hesitaria em quebrar minhas resoluções, e rapidamente voltaria ao meu antigo estado. Não há dependência em mim mesmo. Nossas resoluções podem estar no mais alto [patamar] num dia, contudo, no próximo, podemos estar em uma miserável condição de morte, sem a menor semelhança com a pessoa que tomou a resolução. Desse modo, é inútil tomar resoluções, a não ser que dependamos da graça de Deus. Pois, se não fosse por sua mera graça, alguém poderia ser muito bom num dia, e muito ímpio no próximo.

Também descobri por experiência que não há como desvendar os propósitos da Providência, e em particular as dispensações relacionadas a mim, a não ser o fato de que as aflições vêm como correções pelo pecado, e Deus pretende, quando nos encontramos com elas, que nós olhemos para trás na nossa caminhada, e vejamos onde erramos, e lamentemos desse pecado particular, e de todos os outros pecados, diante dele. Sabendo também isto: que todas as coisas cooperam para o nosso bem; embora não saibamos de que maneira, mas confiando em Deus.

terça-feira, 27 de maio de 2014

MEMÓRIAS DE JONATHAN EDWARDS - CAP. 3

PRODUÇÕES RELIGIOSAS INICIAIS – “MISCELÂNEAS” – NOTAS SOBRE AS ESCRITURAS – INÍCIO DE SUA PREGAÇÃO – RESOLUÇÕES
Por Sereno E. Dwight
Uma preocupação consciente com o dever apareceu grandemente tanto nos primeiros quanto nos últimos dias de Jonathan Edwards. Na infância, o espírito de amor e obediência o guiava totalmente; e como aprendiz, descobriu cada disposição honrável para si, encorajando as pessoas que ansiosamente auxiliavam no seu progresso, e naquilo que era justamente considerado como a mais calorosa de suas incomuns realizações. A criança, o jovem, o homem, todos apresentaram à vista a mesma mente superior, em diferentes graus de avanço, mas ainda assim, semelhantes indicativas das mesmas excelências gerais.
Enquanto estava na faculdade, prestou a mais assídua e bem sucedida atenção a todos os seus deveres designados, e, em particular, ao estudo da filosofia mental e física. Contudo, ainda encontrou tempo para buscar um caráter mais elevado e espiritual. Sua inteira educação, desde a mais tenra infância, e os conselhos dos pais, bem como seus próprio sentimentos, o motivaram a essas buscas.
“Ler a Bíblia diariamente, e lê-la em conexão com outros livros religiosos, diligente e atentamente, no Dia do Senhor, era, nos primeiros dias da Nova Inglaterra, o dever habitual de toda criança. E a família de seu pai, ainda que atenta ao devido cultivo da mente e dos costumes, não havia perdido nem um pouco da severidade e do cuidado que caracterizavam os peregrinos. Os livros que ele achou na casa de seu pai, a conversa dos ministros que sempre recorriam a sua casa, os costumes do tempo, bem como a mais imediata influência da instrução e exemplo paternal, naturalmente incitavam uma mente como a sua para a precoce contemplação e investigação de muitas das verdades e princípios da teologia. Também tinha testemunhado na congregação de seu pai, antes de sua admissão na faculdade, diversos reavivamentos extensos da religião. E em dois deles as impressões sobre sua mente haviam sido extraordinariamente profundas e solenes. O nome familiarmente dado pelo povo comum da Nova Inglaterra a estes eventos – “uma atenção religiosa,” e “uma atenção geral para a religião” – indica a natureza deles. Uma pessoa pessoalmente familiarizada com estes eventos não precisa ser informada de que, durante seu progresso, as grandes verdades da religião, como ensinadas nas Escrituras, e como explicadas nos escritos dos teólogos, tornam-se os objetos do interesse geral e intenso, e de estudo prático minucioso. Ou ainda que o conhecimento adquirido por todo um povo em tais tempos, em um período comparativamente curto, com frequência excede as aquisições de muitos anos anteriores. Com todas estas coisas em vista não surpreende que a estes dois tipos de leitura ele tenha se devotado muito cedo, com grande diligência e sucesso.”
Duas de suas primeiras Resoluções se relacionam a esse assunto, nas quais se propõe “a estudar as Escrituras tão contínua, constante e frequentemente a ponto de poder encontrar e claramente perceber a mim mesmo crescendo no conhecimento dela.” Nunca perdeu de vista esta resolução. Em 8 de junho de 1723, também propôs que, a qualquer momento que se achasse em uma disposição débil e relaxada, leria novamente sua própria obra “Anotações e Reflexões de Natureza Religiosa,” a fim de animá-lo ao seu dever. Estas “Anotações e Reflexões” eram muito numerosas. O primeiro manuscrito de suas “Miscelâneas” está em formato de fólio [livro numerado por folhas (frente e verso) e não por páginas], e consiste de quarenta e quatro folhas de papel almaço, escritas separadamente, e costuradas. Quando iniciou a obra, obviamente não suspeitava do tamanho que ela tomaria, nem tinha ele formado o plano final de arranjo. Intitulou o primeiro artigo como “Da Santidade”, e tendo finalizado-o, e rabiscado um linha de separação através da página, começou o segundo: “Da mediação e satisfação de Cristo.” O mesmo ocorre com o terceiro e quarto. O quinto ele escreve, sem uma linha de separação, em grandes letras: “Felicidade Espiritual.” Após este, o assunto de cada novo artigo está impresso, ou escrito, em letras grandes. Seu primeiro artigo foi escrito na segunda página de uma folha de papel solta; e tendo escrito na segunda, terceira e quarta páginas, voltou para a primeira. Começou a numerar seus artigos pelas letras do alfabeto, a, b, c, e tendo finalizado, iniciou com uma letra dupla, aa, bb, cc. Quando a sequência estava findada, descobrindo que sua obra estava alargada, tomou os números regulares 1, 2, 3, etc., e a este plano, tanto em relação aos assuntos quanto aos números, posteriormente deu prosseguimento.
O início da obra está escrito em uma caligrafia notavelmente pequena e arredondada, quase a mesma com a qual são escritas suas primeiras produções. Isto se estende até por volta de 150 artigos, e, após isso, mudou perceptivelmente para uma caligrafia de algum modo mais formada e fluente. Estes parecem obviamente ter sido escritos durante os últimos anos de sua vida na faculdade, e dos anos de sua residência na faculdade, no Bacharelado de Artes. Largas porções desta obra serão encontradas na presente edição de suas Obras, e um número daquelas dos primeiros artigos. Tais são as Observações Miscelâneas e as Anotações Miscelâneas, vol. ii, pág. 459 e as Miscelâneas, pág 525. Nestas serão encontrados muitos de seus mais originais e profundos pensamentos e discussões sobre assuntos teológicos.
Seu estudo regular e diligente da sagrada Escritura cedo o levou a descobrir que ele abria diante de si um campo quase ilimitado de investigação e pesquisa. Algumas passagens ele descobriu terem sido traduzidas incorretamente. Muitas eram bastante obscuras, e difíceis de explicar. Em muitas havia aparentes inconsistências e contradições. Muitas haviam sido há muito empregadas como provas de doutrinas e princípios, aos quais não faziam nenhuma referência possível. As palavras e frases, bem como os sentimentos e narrativas, em um aspecto, ele via ilustrados e interpretados por outro. Percebeu que o Antigo Testamento, em sua linguagem, história, doutrinas e culto, em sua alusão a costumes e maneiras, em suas profecias, tipos e imagens, era introdutório e explicativo para o Novo [Testamento]; enquanto que o Novo, ao apresentar a plena completude de todo o plano e desígnio de seu Autor comum, desvendava a verdadeira intenção e relação de cada parte do Antigo. Encarando o volume sagrado com a mais alta veneração, pareceu ter resolvido, enquanto era membro da faculdade, que iria, até onde fosse possível, ficar possuído, em cada parte que lia, do verdadeiro sentido de seu Autor. Com esta perspectiva, começou sua “Notas sobre as Escrituras”, obviamente tornando sua regra padrão estudar cada passagem que ele lia que apresentava a menor dificuldade para a sua mente, ou que soubesse ter sido reputada difícil por outros, até que tal dificuldade fosse satisfatoriamente removida.
O resultado de suas investigações ele regularmente, e à época, confiava à escrita; a princípio em meias folhas separadas, em formato A5. Tendo, porém, descoberto a inconveniência deste método em seus outros escritos juvenis, logo formou pequenos panfletos de folhas, que posteriormente foram transformadas em volumes. Alguns dos artigos, cerca de cinquenta, parecem ter sido escritos enquanto ainda estava na faculdade. O restante, enquanto se preparava para o ministério e durante sua vida subsequente. Que ele não tinha suspeitas do tamanho que a obra tomaria é evidente, e se posteriormente planejou a sua publicação, como uma ilustração das mais difíceis e obscuras passagens da Bíblia, talvez não possa ser determinado com certeza. Alguns dos artigos de natureza histórica ou mitológica são marcados com aspas dos escritos de outros, e estão omitidos na presente edição de suas Obras. O leitor, após investigar a obra, ficará satisfeito que sejam frutos de sua própria investigação, e que seu modo de remover as dificuldades era – não como é com frequência, com disfarce ou má representação delas, mas lhes dando sua plena força, e encarando-as com argumentos limpos. Talvez nenhuma coleção de notas sobre as Escrituras tão originais possa ser encontrada. A partir do número prefixado a cada artigo, se descobrirá ser fácil selecionar aquelas que foram resultado de seus labores iniciais. Tal plano de investigar e explicar as dificuldades do livro sagrado, em período tão precoce da vida, provavelmente não encontra exemplo igual, e demonstra uma maturidade de realizações morais e intelectuais raramente igualada. Entre as mais interessantes e capazes destas investigações se descobrirá a discussão sobre o sacrifício da filha de Jefté (Jz 11:29-40) e sobre o princípio apresentado por Paulo em Romanos 8:28: Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Esta, por estar contida em sua carta ao Sr. Gillespie, de 4/9/1747, está omitida nas notas sobre as Escrituras.”
A classe da qual foi um membro terminou seu curso superior regular em setembro de 1720, antes que tivesse dezessete anos de idade. Nesse período, e por um longo tempo posterior, o único exercício - à exceção das Teses Latinas, dadas no início da classe de bacharelado - era o Salutatory [uma declamação de boas vindas], o qual também era um Valedictory [uma declamação de despedida, geralmente ao final da graduação], uma Oração em Latim. Ele foi premiado neste exercício, por ter obtido o mais alto conceito como erudito entre os membros de sua classe.
Ele residiu na faculdade por quase dois anos depois de sua primeira formação, preparando-se para o ofício do ministério. Após isso, tendo passado pelos testes de costume, recebeu a licença para pregar. Isto ocorreu aos dezenove anos de idade. Devido a uma solicitação de diversos ministros na Nova Inglaterra, a quem foi confiado que agissem em prol dos presbiterianos em Nova York, ele foi para aquela cidade no início de agosto de 1722, e lá pregou, com grande aceitação, por cerca de oito meses. Enquanto esteve lá, residiu alegremente na casa da Sra. Smith, que, juntamente com seu filho, o Sr. John Smith, ele considerava como pessoas de piedade incomum e pureza de vida. Com eles formou uma íntima amizade cristã. Lá também encontrou um número considerável de pessoas, membros daquela igreja, que exibiam o mesmo caráter. Com estes aproveitou, em alto grau, todas os deleites e vantagens do relacionamento cristão. Sua ligação pessoal a eles tornou-se forte, e o interesse deles nele como homem e pregador foi tal que calorosamente solicitaram que com eles permanecessem pelo resto da vida. Declinar deste cândido convite foi muito aflitivo para seus sentimentos; entretanto, devido à pequenez dessa congregação, e de algumas dificuldades peculiares que a acompanhavam, não pensou que houvesse uma perspectiva racional de utilidade e conforto lá. Após uma despedida muito dolorosa dos seus bons amigos, sob cujo hospitaleiro teto tinha residido por tanto tempo e com tanta felicidade, deixou a cidade em 26 de abril, de barco, e alcançou a residência de seu pai na quarta-feira, dia primeiro de maio. Lá passou o verão em rigoroso estudo, durante o qual foi de novo solicitamente requisitado pela congregação em Nova York, para que retornasse àquela cidade, e se estabelecesse entre eles. Contudo, suas perspectivas anteriores não se alteraram, portanto, ainda que fortemente inclinado por seus sentimentos para satisfazê-los, não pôde aceder a seus desejos. É provável que em nenhuma outra época de sua vida teve mais altas vantagens para a contemplação e deleite espiritual do que no período antes mencionado. Ele foi a Nova York em uma disposição deleitosa de mente. Lá encontrou um pequeno rebanho de Cristo, constrangido com o senso de sua própria fraqueza a “habitar juntamente em unidade,” e a sentir um senso prático de dependência de Deus. Estava no meio de uma família, cuja influência diária servia apenas para refrescar e santificar. Também tinha muito tempo livre para leitura religiosa, meditação, e oração. Nestas circunstâncias, a presente do Consolador parece ter sido uma realidade diária; do que encontrou evidência naquela pureza de coração que capacita os que a possuem a ver Deus, na paz que vai além de todo entendimento, e na alegria da qual não participa o estranho [Pv 14:10].
 Durante sua preparação para o ministério, sua residência em Nova York, e a residência subsequente na casa de seu pai, ele formou uma série de resoluções, perfazendo o número de setenta, que destinavam-se obviamente a si próprio somente, para regular seu próprio coração e vida, mas também eram apropriadas, devido à simplicidade cristã e ao caráter espiritual, a serem extremamente úteis para outros. Destas, as primeiras trinta e quatro foram escritas antes de 18 de dezembro de 1722, o tempo no qual seu Diário, como agora existe, começa. O tempo em particular e a ocasião da composição das demais, serão encontrados nesta mui interessante narrativa, na qual também estão muitas outras regras e resoluções, direcionadas à regulação de suas próprias afeições, de talvez igual excelência. Deve ser lembrado que foram todas escritas antes dos seus vinte e dois anos de idade. Uma vez que era inteiramente avesso à toda profissão [pública] e ostentação; e uma  vez que estas resoluções eram claramente dedicadas para serem vistas por ninguém, senão por ele mesmo – à exceção do olho que é onisciente – elas podem ser consideradas com justiça como a base de sua conduta e caráter, o plano pelo qual governava tanto as ações públicas quanto as secretas de sua vida. Como tais, interessarão profundamente ao leitor, não apenas por desvelarem a mais íntima mente de seu autor, mas à medida em que mostram, de maneira muito notável e convincente para a consciência qual é a verdadeira base da excelência grandiosa e distinta.
Ele estava muito bem familiarizado com a fraqueza e fragilidade humana, mesmo onde as intenções são muito sinceras, para adentrar em quaisquer resoluções precipitadamente, ou devido à confiança em sua própria força. Portanto, na abertura, olhou para Deus por ajuda, quem somente pode conceder sucesso no uso dos melhores meios, e na pretendida realização dos melhores propósitos. Isto ele põe no cabeçalho de todas as outras importantes regras: que sua inteira dependência estava na graça de Deus, enquanto ainda se propõe a recorrer à frequente e séria investigação delas, a fim de que pudessem se tornar o guia habitual de sua vida.

RESOLUÇÕES


“Estando sensível de que sou incapaz de fazer qualquer coisa sem a ajuda de Deus, eu, humildemente rogo que, pela Sua graça, me capacite a manter estas Resoluções, até onde forem conforme sua vontade, por amor de Cristo.
Lembre-se de ler estas Resoluções uma vez por semana.
1. Resolvi, Que farei o que quer que ache seja para a maior glória de Deus, e meu próprio bem, ganho, e prazer, durante toda minha existência, sem qualquer consideração acerca do tempo, quer agora, ou daqui a muitas miríades de eras. Resolvi, fazer o que quer que ache ser meu dever, e para o bem e vantagem da humanidade em geral. Resolvi assim o fazer, sejam quais forem as dificuldades que encontre, quantas e por maiores que sejam.
2. Resolvi, Continuamente me esforçar para descobrir alguma nova maneira e invenção para promover as coisas pré-mencionadas.
3. Resolvi, Se alguma vez cair e permanecer na apatia, a ponto de negligenciar qualquer porção destas Resoluções, arrepender-me de tudo que possa me lembrar, quando cair em mim.
4. Resolvi, Nunca fazer qualquer tipo de coisa, seja na alma ou no corpo, menos ou mais, a não ser o que tenda para a glória de Deus, nem vivenciá-la, ou permiti-la, se puder evitá-la.
5. Resolvi, nunca perder um instante do tempo, mas aproveitá-lo do mais frutífero modo que puder.
6. Resolvi, viver utilizando todas as minhas forças, enquanto viver.
7. Resolvi, Nunca fazer qualquer coisa que temeria fazer se fosse a última hora de minha vida.
8. Resolvi, Agir, em todos os aspectos, tanto na fala quanto na ação, como se ninguém fosse tão vil quanto eu, e como se houvesse cometido os mesmos pecados, ou tivesse as mesmas enfermidades ou faltas que os outros; e que não deixarei que o conhecimento de suas faltas promova nada em mim, senão vergonha, e que se provem apenas como ocasião para minha confissão de meus próprios pecados e misérias a Deus. Vid. 30 de julho.
9. Resolvi, pensar bastante, em todas as ocasiões, sobre minha morte, e das circunstâncias comuns que a acompanham.
10. Resolvi, quando sentir dores, pensar nas dores do martírio, e do inferno.
11. Resolvi, quando pensar em alguma questão na teologia, a ser solucionada, imediatamente fazer o que puder em relação à solução, se as circunstâncias não impedirem.
12. Resolvi, se nisso tiver prazer como satisfação do orgulho, ou vaidade, ou por qualquer motivo semelhante, imediatamente deixar de lado.
13. Resolvi, esforçar-me para descobrir objetos idôneos de liberalidade e caridade.
14. Resolvi, nunca fazer algo por vingança.
15. Resolvi, nunca permitir mínimos movimentos de ira direcionados a seres irracionais.
16. Resolvi, nunca falar mal de ninguém, na medida em que isto tenderá para sua maior ou menor desonra, por nenhum motivo a não ser por algum bem real.
17. Resolvi, que viverei do modo pelo qual desejarei ter vivido quando vier a morrer.
18. Resolvi, viver de tal modo, a todo tempo, como achar ser o melhor nas minhas mais devotas disposições, e quando tenho as mais claras noções das coisas do evangelho e do outro mundo.
19. Resolvi, nunca fazer algo que temeria fazer se esperasse que não haveria mais de uma hora para que ouvisse a última trombeta.
20. Resolvi, manter a mais severa temperança no comer e no beber.
21. Resolvi, nunca fazer algo que, se visse em outra pessoa, me desse um justo motivo para desprezá-la, ou de alguma maneira ter pensamentos maldosos a respeito dela.
22. Resolvi, esforçar-me para obter para mim mesmo o máximo de felicidade possível no mundo vindouro, e isto com todo poder, força, vigor e veemência, até mesmo com violência [veja Mt 11:12, na ARC] de que seja capaz, ou que possa exercer sobre mim mesmo, de qualquer modo imaginável.
23. Resolvi, frequentemente tomar alguma ação deliberada, que parece improvável de ser realizada para a glória de Deus e rastreá-la de volta até às suas intenções, desígnios e propósitos originais; e se descobrir que não tenha sido para a glória de Deus, reputá-la como uma quebra da quarta Resolução.
24. Resolvi, quando fizer alguma ação patentemente maligna, traçá-la de volta até chegar a sua causa original; e, então, tanto lutar cuidadosamente para não mais realizá-la, quanto fazê-lo pela oração, com toda força contra a sua origem.
25. Resolvi, examinar, cuidadosa e constantemente o que há em mim que me faz, por pouco que seja, duvidar do amor de Deus; e, após esse exame, direcionar toda minha força contra isso.
26. Resolvi, lançar fora as coisas que descobrir abaterem minha segurança [da salvação].
27. Resolvi, nunca omitir algo voluntariamente, exceto se tal omissão for para a glória de Deus. Também resolvi examinar minhas omissões.
28. Resolvi, estudar as Escrituras tão constante, firme e frequentemente, a ponto de poder descobrir e claramente perceber a mim mesmo crescendo no conhecimento dela.
29. Resolvi nunca contar como uma oração, nem deixar passar por oração, nem ao menos como um pedido de oração o que for feito de tal modo que eu não possa esperar que Deus o responderá; nem como confissão algo que eu não espere que Deus aceitará.
30. Resolvi, lutar a cada semana para ser levado a um lugar mais alto na religião, e a um mais alto exercício da graça do que tive na semana anterior.
31. Resolvi, nunca dizer nada contra qualquer criatura, senão quando for perfeitamente coerente com o mais alto grau da honra cristã, e com o amor pela humanidade, e com a mais rebaixada humildade, e com o senso de minhas próprias faltas e falhas, e conforme à Regra de Ouro; sempre, quando tiver dito algo contra alguém, resolvi sondar rigorosamente a isto pelo teste desta Resolução.
32. Resolvi, ser rigorosa e firmemente fiel à minha crença, para que o disposto em Pv 20:6: “Mas o homem fidedigno, quem o achará?” não seja parcialmente cumprido em mim.
33. Resolvi, fazer o que puder para promover, manter e preservar a paz, quando isto puder ser feito sem um prejuízo correspondente em outros aspectos. 26 de dez. 1722.
34. Resolvi, nas narrativas, nunca falar senão o que for a pura e simples verdade.
35. Resolvi, a qualquer momento que questionar se fiz o que era meu dever fazer, de tal modo que minha paz e calma seja por isto perturbada, registrar isso, bem como por que maneira a questão foi resolvida. 18 de dez. 1722.
36. Resolvi, Nunca falar mal de ninguém, exceto se tiver um bom motivo em particular para isso. 19 de dez. 1722.
37. Resolvi, inquirir a cada noite, e quando for me deitar, em que fui negligente, - que pecado cometi, - e em que tenho negado a mim mesmo; isso também ao fim de cada semana, mês e ano. 22 e 26 de dez., 1722.
38. Resolvi, jamais proferir algo que seja cômico, ou matéria de riso, no Dia do Senhor. 23 de dez., 1722, Dia do Senhor, à noite.
39. Resolvi, nunca fazer algo de que eu questione a licitude, ou que pretenda, ao mesmo tempo, considerar e examinar posteriormente se aquilo é lícito ou não; a menos que eu questione a licitude da omissão.
40. Resolvi, inquirir, toda noite antes de ir dormir, se agi do melhor modo possível, com respeito ao comer e ao beber. 7 de jan. 1723.
41. Resolvi, perguntar a mim mesmo, ao final de cada dia, semana, mês e ano, em que poderia, de algum modo, ter agido melhor. 11 de jan., 1723.
42. Resolvi, frequentemente renovar a minha dedicação a Deus, que foi feita no meu batismo, e que solenemente renovei quando fui recebido na comunhão da igreja, e que solenemente refiz nesta data de 12 de janeiro de 1723.
43. Resolvi, nunca, daqui por diante, até eu morrer, agir como se pertencesse de algum modo a mim mesmo, mas sim inteira e totalmente a Deus. Sábado, 12 de jan., 1723.
44. Resolvi, que nenhum outro fim senão o da religião terá alguma influência em quaisquer de minhas ações; e que não tomarei nenhuma atitude, em circunstância alguma, senão a que tenha como propósito a religião. 12 de janeiro, 1723.
45. Resolvi, nunca permitir qualquer prazer ou dor, alegria ou luto, nem afeição alguma, nem qualquer grau de afeição, nem qualquer circunstância a ela relacionada, senão o que for favorável à religião. 12 e 13 de jan., 1723.
46. Resolvi, jamais permitir a menor medida de preocupação ou inquietação a meu pai ou mãe. Resolvi, não permitir também os efeitos disso, até mesmo a menor alteração da fala, ou movimento dos meus olhos; e também a ser especialmente cuidadoso nisso com relação aos demais membros de nossa família.
47. Resolvi, me esforçar ao máximo para negar tudo o que não seja condizente com um temperamento totalmente doce e benevolente, tranquilo, pacífico, contente e relaxado, compassivo e generoso, humilde e manso, submisso e bondoso, diligente e frutífero, caridoso e mesmo paciente, moderado, perdoador e sincero. Resolvi fazer, a todo tempo, o que tal temperamento me conduzir a fazer; e examinar estritamente, ao final de cada semana, se assim o tenho feito. Na manhã do Dia do Senhor. 5 de maio, 1723.
48. Resolvi, constantemente, com máxima cortesia e diligência, e o mais severo escrutínio, investigar o estado de minha alma, para que saiba se verdadeiramente tenho um interesse em Cristo ou não; para que, quando vier a morrer, não tenha nenhuma negligência nesse assunto de que possa me arrepender. 26 de maio, 1723.
49. Resolvi, que isso [o exposto na Resolução anterior] jamais ocorrerá, se puder evitá-lo.
50. Resolvi que agirei do modo que pensar ter sido o melhor e mais prudente, quando chegar ao mundo porvir. 5 de julho, 1723.
51. Resolvi que agirei de tal modo, em todo os aspectos, do modo que desejaria ter agido, se ao fim viesse a ser condenado. 8 de julho, 1723.
52. Frequentemente ouço pessoas idosas dizerem como viveriam, se pudessem viver suas vidas novamente: Resolvi, que viverei de tal maneira como puder pensar ter desejado viver, supondo que viva até à velhice. 8 de julho, 1723.
53. Resolvi, aproveitar cada oportunidade, quando estiver em minhas melhores e mais felizes disposições de mente, para lançar e aventurar minha alma ao Senhor Jesus Cristo, confiar e entregar-me, e consagrar-me inteiramente a ele; para que por esse modo possa estar certo de minha segurança, sabendo que confio em meu Redentor. 8 de julho, 1723.
54. Resolvi, que quando ouvir algo falado favoravelmente de alguma pessoa, se achar que isso seria louvável em mim, esforçar-me para imitá-la. 8 de julho, 1723.
55. Resolvi, esforçar-me ao máximo para agir como puder pensar que o faria, se já houvesse visto a felicidade do céu e os tormentos do inferno. 8 de julho, 1723.
56. Resolvi, nunca abandonar, e, nem sequer por um instante, negligenciar minha luta contra minhas corrupções, independentemente das derrotas que sofra.
57. Resolvi, quando sentir as desgraças e adversidades, examinar se fiz o meu dever, e resolver fazê-lo e deixar que o evento ocorra como a Providência o ordenar. Não irei, até onde puder, me preocupar com nada, a não ser com meu dever e meu pecado. 9 de junho, e 13 de julho, 1723.
58. Resolvi, não apenas me refrear de uma aparência de desgosto, petulância e ira na conversação, mas exibir um ar de amor, alegria e benignidade. 27 de maio e 13 de julho, 1723.
59. Resolvi, quando estiver mais consciente das provocações à uma disposição irritada e à ira, que lutarei o máximo para me sentir e agir de boa vontade; sim, nesses momentos, resolvi manifestar boa natureza, embora pense que em outros aspectos isso seria desvantajoso, do mesmo modo que poderia ser imprudente em outras ocasiões. 12 de maio, 11 e 13 de julho.
60. Resolvi, quando meus sentimentos começarem a parecer, por pouco que seja, desordenados, quando estiver cônscio da menor inquietude interior, ou da menor irregularidade exterior, então me submeterei ao mais estrito exame. 4 e 13 de julho, 1723.
61. Resolvi, que não darei lugar àquela torpeza que descubro afrouxar e relaxar minha mente de estar plena e fixamente colocada na religião, seja qual for a desculpa que para isso tenha, ao pensar que o que minha torpeza me inclinar a fazer é o melhor a ser feito, e coisas semelhantes. 21 de maio e 13 de julho, 1723.
62. Resolvi, nada fazer senão o que for meu dever, e, de acordo com Ef 6:6-8 [não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus;  7 servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens,  8 certos de que cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá isso outra vez do Senhor, quer seja servo, quer livre.], fazê-lo alegre e voluntariamente, como ao Senhor e não a homens: sabendo que qualquer boa coisa que o homem faz, o mesmo se receberá do Senhor. 25 de junho e 13 de julho, 1723.
63. Na hipótese de que jamais houve um indivíduo no mundo, a qualquer tempo, que foi propriamente um cristão completo, que tenha sido em todos os aspectos de um caráter justo, tendo o cristianismo sempre brilhando em seu verdadeiro esplendor, e mostrando-se excelente e amável, de qualquer parte e ângulo observado: Resolvi, agir de tal maneira que lute com todas as minhas forças para ser esse cristão, ainda que seja o único de minha época. 14 de jan. e 13 de jun., 1723.
64. Resolvi, quando descobrir aqueles “gemidos inexprimíveis”, de que fala o apóstolo, e o que fala o salmista sobre “consumida está a minha alma por desejar”, que irei promovê-los com o máximo de minhas forças; e que não serei remisso em prontamente me esforçar para liberar meus desejos; nem deixarei de perseverar nesse sentido. 23 de jul. e 10 de ago., 1723.
65. Resolvi, nisto me exercitar, por toda a minha vida, isto é, com a maior abertura de que seja capaz, declarar meus caminhos a Deus, e abrir minha alma para ele: todos os meus pecados, tentações, dificuldades, dores, esperanças, desejos, e tudo, e cada circunstância, de acordo com o sermão do Dr. [Thomas] Manton no salmo 119. 26 de jul. e 10 de ago., 1723.
66. Resolvi, que me esforçarei sempre para manter um aspecto benigno, no agir e no falar, em todos os lugares, e em todas as companhias, exceto se meu dever exigir que faça o contrário.
67. Resolvi, após aflições, inquirir elas me trouxeram de bom, e o que poderia ter obtido delas.
68. Resolvi, confessar francamente a mim mesmo tudo o que achar em mim, quer de enfermidade ou pecado; e, se isto também se relacionar à religião, também confessar tudo a Deus, e implorar o seu auxílio. 23 de jul. e 10 de ago., 1723.
69. Resolvi, sempre fazer aquilo que desejaria ter feito quando vir outros realizando. 11 de ago. 1723.
70. Que sempre haja algo benevolente em tudo o que eu falar. 17 de agosto de 1723.

Estas foram as excelentes Resoluções tomadas por Jonathan Edwards em um período precoce de sua vida, e que foram posteriormente encaradas por ele não como registros menos importantes, mas como contendo os maiores princípios de sua vida espiritual. Um profundo e extenso conhecimento do coração é manifesto nessas Resoluções; uma convicção de seus defeitos; uma vívida apreensão de seus perigos; e um intenso cuidado de que todas as suas inclinações fossem em direção a Deus, e a toda coisa exigida pela sua santa vontade. Há uma notável ternura de consciência descoberta em cada exemplo que foi declarado. O homem que pôde assim escrever não era alguém que poderia facilmente menosprezar o pecado, ou que poderia adentrar em qualquer de seus caminhos sem a imediata reprovação de uma consciência ofendida. Este santo homem tremia mesmo ao contemplar à distância o pecado; não poderia voluntariamente se aproximar e contemplar suas seduções. Acostumado a respirar uma atmosfera santa, a menor nuvem de corrupção imediatamente afetava sua disposição espiritual. Não conhecia felicidade senão a que estava conectada com uma consciência vazia de ofensa. Todas estas regras eram as sugestões da consciência de um caráter altamente iluminado. Também indicam um senso constante da presença e das observações exatas do Perscrutador de todos os corações. Ele vivia como se visse o que é invisível; tinha o Senhor sempre diante de si, o encorajando em todas as ocasiões para um ávido zelo pela glória de Deus, o objeto maior para o qual desejava viver tanto na terra quanto no céu, objeto que quando era comparado a todas as outras coisas à sua vista elas nada mais eram do que ninharias. Se isso era alcançado, todos os seus desejos eram satisfeitos; mas se era perdido, ou alcançado imperfeitamente, sua alma se enchia de angústia. Essas Resoluções dão amplo testemunho do quanto o autor adentrou no espírito de 1 Co 10:31: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.” Também ilustram suas opiniões sobre a importância da consistência do caráter. Ele não se contentava com visões corretas da verdade, ou qualquer tipo de profissão exterior, aparte da santa consistência de caráter. Estudava, admirava e exibia a influência do evangelho; um andar “digno da vocação para a qual foi chamado” era o objeto elevado ao qual ardentemente aspirava. Ele bem sabia que se requer dos seguidores de Cristo que “preservem a palavra da vida,” que brilhem como luzeiros do mundo, que instruam pelos seus exemplos bem como por suas palavras; e desejava honrar a Deus apresentando aos membros do reino espiritual, e também ao mundo, um modelo que pudesse declarar a realidade e beleza da religião. Além disso, é manifesto a partir destas Resoluções, que sua mente era muito ansiosa para avançar diariamente em cada ramo da santidade. Havia nele um princípio espiritual ativo, que o fazia romper com todos os obstáculos do caminho. Não conseguia se contentar quando ainda restava nele um pecado, enquanto uma graça estava em falta, ou um mero dever realizado, porém imperfeitamente. Aspirava pela santa perfeição do mundo celestial, e antecipava com alegria aquele dia em que despertaria com a semelhança divina. Não é surpresa que, com estes sentimentos e opiniões tenha alcançado um caráter exaltado raramente igualado e talvez nunca superado.

As Resoluções que deram ensejo a estas reflexões são provavelmente “para pessoas de qualquer idade, mas em especial para as jovens, o melhor resumo não inspirado do dever cristão, a melhor instrução para altas realizações na virtude evangélica, que a mente humana até aqui foi capaz de formar.” Elas desvendam o próprio caráter de seu autor, e são admiravelmente calculadas para aprimorar o caráter de todo leitor que teme o pecado, e se regozija na pureza da vontade Divina.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

MEMÓRIAS DE JONATHAN EDWARDS - CAP. 2

CAPÍTULO 2
PROGRESSO INTELECTUAL – PRODUÇÕES INICIAIS – ENTRADA NA FACULDADE – HÁBITOS MENTAIS
Por Sereno E. Dwight
Uma declaração foi dada principalmente da pena do próprio Sr. Edwards sobre suas perspectivas religiosas na juventude, e será apropriado, antes que esse assunto seja retomado, fazer referência a seus progressos intelectuais no mesmo período. É deleitoso contemplar o avanço simultâneo do conhecimento na mente e da piedade no coração. Ninguém pode sensatamente imaginar que haja uma oposição entre estas coisas. Todos cujas mentes estiverem abertas ao convencimento serão persuadidos de que o crescimento da piedade é muito favorável ao aumento dos melhores tesouros da sabedoria terrena. A religião fortalece os poderes [intelectuais] do homem, nunca os debilita. Ela corta, de imediato, aqueles prazeres culposos, e aquelas buscas indignas, que não meramente impedem o progresso do entendimento, mas, em muitos casos, são absolutamente fatais para a sua vivacidade. E ela forma aqueles hábitos mentais, bem como produz essa conduta correta exterior, que são muito favoráveis ao cultivo das mais nobres faculdades do homem. Seria fácil recordar uma extensa lista de nomes matriculados, com honra incessante, tanto nas escolas da ciência quanto na igreja de Deus. O evangelho de Cristo tem sido uniformemente amigo do conhecimento sólido, e aqueles que se dispõem a criticar os esforços e habilidades do intelecto não são amigos sensatos do evangelho. A igreja cristã teme o véu da escuridão, mas se regozija na luz.
A mesma bondade e sabedoria paternal que, abaixo de Deus, guiaram a mente de Jonathan Edwards ao conhecimento e amor das coisas eternas, também foram bastante determinadas na orientação de seus poderes intelectuais para os objetos úteis da ciência terrena. Quando tinha apenas seis anos, o estudo do latim ocupou sua atenção, sob os cuidados de seu pai, e, ocasionalmente, de suas irmãs mais velhas. Nenhum registro foi preservado de seu progresso nos estudos nesse período inicial, mas sua alta posição como erudito em sua admissão à faculdade, bem como posteriormente, e seu conhecimento exaustivo do latim, grego e hebraico, provam de imediato sua própria diligência como estudante neste tempo, e a acurácia e fidelidade das instruções de seu pai.
“De seus manuscritos remanescentes, é evidente que a família de seu pai era afeiçoada à escrita, e que ele e suas irmãs foram encorajados desde cedo por seus pais para fazerem tentativas, não apenas na escrita de cartas, mas em outras espécies de composição. Esse costume, embora raramente estimulado nas crianças, é altamente vantajoso; e, no caso diante de nós, foi obviamente seguido dos melhores resultados. Enquanto aumentava a afeição mútua entre o irmão e as irmãs, também servia para fortalecer suas mentes, e comunicar a precisão tanto de pensamento quanto de expressão. O mais antigo esforço de sua pena parece ter sido escrito na seguinte ocasião.
Alguém da vizinhança, provavelmente um garoto mais velho, tinha sustentado a opinião de que a alma era material, e permanecia com o corpo até à ressurreição. Essa pessoa se esforçou para convencê-lo de que estava correta. Impactado pelo absurdo da noção, ele se sentou e escreveu a seguinte réplica, a qual, como uma ilustração tanto de sutileza quanto de raciocínio em uma criança com cerca de dez anos, pode, com justiça, reclamar ser preservada. Está sem data, e sem pontuação, ou qualquer divisão em sentenças. E parece ter sido escrita por um garoto que acabou de aprender a escrever.
“Fui informado de que você apresentou uma opinião de que a alma é material, e acompanha o corpo até a ressurreição. Como eu sou um amante professo de novidades, você deve imaginar que estou muito alegre com esta descoberta (que, ainda que seja antiga em algumas partes do mundo, para nós é novidade); mas, tolere um pouco mais minha curiosidade, pois quero saber os costumes do reino antes que jure lealdade a ele: Primeiro, quero saber se esta alma material permanece (com o corpo) no caixão, e se sim, não seria conveniente construir um depósito para ela? Para isso, queria saber que forma ela teria, se seria redonda, triangular, ou quadrada; ou se é um número de cordas longas e finas alcançando da cabeça ao pé; e se não vive uma vida muito descontente. Temo que, quando o caixão ceder, a terra cairá e a esmagará; mas se escolher viver acima do solo, e vagar em volta do túmulo, de que tamanho ela seria? Se ela cobre todo o corpo, o que acontece quando outro corpo é posto sobre ela? se a primeira dá lugar, e, se for assim, qual é o seu lugar de refúgio? Mas suponha que as almas não são tão grandes, mas que dez ou doze delas sejam aproximadamente do tamanho de um corpo, não irão brigar pelo lugar mais elevado? E, uma vez que insisto tanto em minha honra e propriedade, quero saber se devo abrir mão de minha querida cabeça, se uma alma superior vem no caminho. Mas, acima de tudo, me preocupo em saber o que fazem onde um cemitério for ocupado vinte, trinta ou cem vezes. Se estiverem uma em cima das outras, a que estiver na posição superior estará tão distante que não poderá ter cuidado do corpo. Suspeito fortemente que elas devem marchar todas as vezes que vem um novo grupo. Espero que haja outro lugar providenciado para elas que não seja o pó. Padecer tanta severidade, e ser, no fim, privado do corpo, as irritaria. Deixo isso para que seu gênio físico determine, se alguma aplicação medicinal não seria apropriada em tais casos, e me farei seu prosélito, quando eu tiver uma solução para tais questões.”
A seguinte carta para uma de suas irmãs, escrita na idade de doze anos, é o mais antigo esforço datado de sua pena que foi descoberto.

Para a senhorita Mary Edwards, em Hadley.
Windsor, 10 de maio de 1976.
Querida irmã,
Pela maravilhosa bondade e misericórdia de Deus, houve um derramamento muito notável neste lugar do Espírito de Deus. Ainda continua, mas acho que tenho razão em pensar que diminuiu em alguma medida, contudo espero que não tanto. Três [pessoas] se juntaram à igreja desde as últimas que você ouviu. Cinco agora permanecem aconselhadas para a admissão, e acho que mais de trinta pessoas vêm comumente às segundas para conversar com meu pai sobre a condição de suas almas. É tempo de saúde em geral aqui. Abigail, Hannah e Lucy tiveram catapora e estão recuperadas. Jerusha está quase bem. À exceção dela, toda a família está bem.
Irmã, estou feliz de ouvir do seu bem estar com tanta frequência quanto ouço. Ficaria feliz de ouvir de você por carta, e, nela, como você está com relação à torção.
De seu amoroso irmão,
Jonathan e.

Até que entrou na faculdade, foi educado em casa, e sob a instrução pessoal de seu pai; enquanto suas irmãs mais velhas estavam diariamente perseguindo seus respectivos ramos de estudo em sua presença imediata. Seu pai, tendo se distinguido como um erudito, foi capaz de lhes dar, e realmente lhes deu, uma educação superior. Em tudo que elas se interessavam, a mente de seu irmão, enquanto se abria, também, é claro, ficava mais e mais interessada. E assim, por fim, ele iria fácil e imperceptivelmente adquirir uma massa de informação muito avançada para sua idade.  O curso de sua educação pode, deste modo, ter sido menos sistemático, de fato, menos conforme a regra, do que o seguido comumente na escola. Ao mesmo tempo era mais seguro, formando-o para costumes mais delicados, sentimentos mais gentis, e afeições mais puras. Em suas circunstâncias, também, esta educação foi obviamente mais compreensiva e geral; e, na medida em que o familiarizou com muitas coisas que não são usualmente comunicadas até um período posterior, também serviu para descortinar os atributos originais de sua mente, e dar-lhes aquela expansão, que é resultado apenas da informação. Uma característica, da qual geralmente não se suspeitou nele, mas que possuía em um grau incomum, era uma paixão minuciosa e crítica para investigar as obras da natureza. Esta propensão não foi apenas descoberta na juventude e idade adulta, mas foi plenamente desenvolvida na infância, e nesse precoce período foi encorajada e acalentada pela mão protetora do cuidado paternal.    
Ele entrou na faculdade de Yale, em New-Haven, em setembro de 1716, antes que completasse treze anos de idade. A faculdade estava então em sua infância, e várias circunstâncias adversas tinham grandemente impedido seu crescimento. Primeiro havia sido plantada em Saybrook, e depois removida parcialmente para Kenilworth, para a casa do primeiro reitor, até sua morte, em 1707. Desde esse tempo, o Rev. Sr. Andrews, de Milford, um dos curadores, se tornou reitor pro tempore, por mais de doze anos. A localização da faculdade era tema constante de contendas entre as cidades de New-Haven, Saybrook, Wethersfield e Hartford, até 1716, quando o voto dos curadores, a doação do Sr. Yale, e o voto do legislativo da colônia, fixou-a permanentemente em New-Haven. No ano colegial de 1716-1717, treze dos alunos residiam em New-Haven, catorze em Wethersfield e quatro em Saybrook. A presidência temporária do Sr. Andrews se estendeu até 1719; e, uma vez que ele era o ministro atuante de Milford, sua supervisão da faculdade, e sua influência sobre os alunos, deve, é claro, ter sido bastante imperfeita. O governo da instituição, virtual e necessariamente, estava principalmente nas mãos dos tutores que, como jovens sem experiência e conhecimento da humanidade, não poderiam geralmente ser achados aptos para tão difícil encargo. Em algum período no ano de 1717, a extrema impopularidade de um dos tutores ocasionou uma insurreição geral dos alunos que residiam em New-Haven, contra o governo da faculdade. Eles se retiraram, à uma, de New-Haven, e se juntaram aos seus companheiros em Wethersfield. No começo daquele ano, oito dos veteranos retornaram a New-Haven para receber seus graus do governo regular da faculdade; enquanto que cinco os receberam irregularmente em Wethersfield. Não há evidência de que Jonathan Edwards tomou parte nestes distúrbios. Contudo, ele se dirigiu com seus companheiros para Wethersfield, lá permanecendo até 1719. Enquanto estava lá, adquiriu uma alta reputação e proeminência em sua classe. Seu pais, escrevendo a uma de suas filhas, em 27 de janeiro de 1718, diz: “Nada ouvi senão que seu irmão Jonathan também está bem. Ele tem um nome muito bom em Wethersfield, tanto em relação a sua conduta quanto ao aprendizado.” Enquanto esteve em Wethersfield, ele escreveu a uma de suas irmãs a seguinte carta; a qual, como documento relacionado a um interessante evento na história da faculdade, não sem razão deve ser preservado.

Para a senhorita Mary Edwards, em Northampton.
Wethersfield, 26 de março de 1719
Querida irmã,
De todas as muitas irmãs que tenho, acho que nunca fiquei tanto tempo sem ouvir notícias de uma quanto de você, visto que não consigo lembrar se já ouvi um i ou j de você, desde a última vez que foi para o norte,    até a última semana, pelo Sr. B., que veio de Northampton.  Quando ele chegou, me alegrei de verdade em vê-lo, porque esperava muito receber uma carta sua por meio dele. Mas sendo desapontado, e não pouco, me dispus a escrever esta, que esperava fosse uma oportunidade de receber o mesmo. Pois eu pensei que seria uma pena que não houvesse a mínima correspondência entre nós, ou comunicação de um com o outro, quando não estamos a tão grande distância. Também espero que isto seja um meio para incitar a mesma [disposição] em você. E assim, tendo mais caridade por você a ponto de acreditar que eu esteja fora de sua mente, ou de que não se preocupe nem um pouco comigo, acho adequado que eu deva lhe dar um relato de minha condição, relativa à escola. Suponho que esteja plenamente familiarizada com nossa vinda de New-Haven, e as circunstâncias dela. Desde então, estamos em mais prósperas condições, penso, do que nunca. Mas o conselho e os curadores, havendo se reunido recentemente em New-Haven, com relação a esta [questão], removeram aquele que foi a causa de nossa vinda, isto é, o Sr. Johnson, do cargo de tutor, e designaram o Sr. Cutler, pastor de Canterbury, como presidente. Este, conforme ouvimos, pretende muito rapidamente ser residente na faculdade Yale, de modo que todos os estudantes que pertencem a nossa escola esperam para lá retornar, tão logo cesse as férias de depois da eleição.
Sou seu amoroso irmão, em boa saúde,
Jonathan Edwards

Enquanto era um membro da faculdade, ele se distinguiu pela constante sobriedade e retidão de comportamento, pela diligente aplicação a seus estudos, e por rápidas e completas realizações no aprendizado. No segundo ano de seu curso, enquanto ainda estava em Wethersfield, leu [a obra de John] Locke sobre o Entendimento Humano, com deleite peculiar. A força incomum e o alcance de sua mente começou a ser descoberto e exercitado mesmo nesta idade precoce. De seu próprio relato da matéria, ele ficou inexprimivelmente entretido e deliciado com essa profunda obra, quando a leu na idade de catorze anos, experimentando um prazer muito mais elevado na investigação de suas páginas “do que os mais ambiciosos avarentos têm, quando reúnem nas mãos prata e ouro, advindos de um tesouro recém-descoberto.” A estudos desta espécie ele se dedicou desde esse tempo, como os que sentia mais intenso interesse. Contudo, ainda se aplicava com muita diligência e sucesso na realização de seus deveres designados, a ponto de sustentar o primeiro lugar em sua classe, e assegurar a mais alta aprovação de seus instrutores.
O Sr. Cutler foi a New-Haven no início de junho de 1719, na abertura do semestre de verão, para assumir os deveres de seu cargo de reitor; e os alunos, entre os quais estava Jonathan Edwards, retornaram para a faculdade. A seguinte carta do reitor para seu pai mostrará o caráter que tinha assumido em Wethersfield, e as circunstâncias tensas da faculdade.

New-Haven, 30 de junho de 1719.
Rev. Senhor,
Sua carta me veio às mãos pelo seu filho. Parabenizo-o pelas suas habilidades e avanços promissores no aprendizado. Ele está agora sob meu cuidado, e é provável que assim continue, e sem dúvidas continuará, se permanecer aqui, e eu for estabelecido no posto que agora me encontro. Posso assegurá-lo, Rev. Senhor, que sua boa afeição para comigo neste assunto, e a dos ministros a sua volta, não me é pequeno incentivo. Se eu perseverar nisto, será um forte motivo para aprimorar minhas pobres habilidades no serviço de jovens tão promissores quanto os que conosco estão. Eles devem suportar bastante minha debilidade, mas não minha negligência. Não sou um político, mas conduzirei toda a faculdade com uma mão justa e com afeição. E não duvido que a dificuldade e a importância do assunto me assegurarão as suas orações, e de todos os homens de bem, as quais tanto prezo e desejo.
Permaneço, na mais pronta esperança e expectativa de suas orações,
Seu humilde servo
T. Cutler.

A seguinte carta característica, escrita para seu pai no seu terceiro ano na faculdade, não será de pouco interesse para o leitor.

Para o Rev. Timothy Edwards, Pastor da igreja em East Windsor.
New-Haven, 21 de julho de 1719
Honrado senhor,
Recebi, com dois livros, uma carta sua, datada de 7 de julho, e nela recebi, com a maior gratidão, seu inteiro conselho e ensino. Espero que, com a ajuda de Deus, use meus maiores esforços para pô-los em prática. Estou sensível da preciosidade do meu tempo, e estou resolvido que não seja por nenhuma negligência minha se ele se perder sem o seu maior aproveitamento. Estou com bastante conteúdo na minha presente tutoria, assim como todo o restante dos estudantes parece estar com a deles. O Sr. Cutler é extraordinariamente cortês conosco, tem um ótimo espírito de governo, mantém a escola em excelente ordem, parece crescer em aprendizado, é amado e respeitado por todos que lhe são subordinados, e quando falam dele na escola ou na cidade, em geral o tratam pelo título de Presidente. Os estudantes todos vivem em paz com o povo da cidade, e não há uma palavra dita acerca de nossa postura anterior, exceto aqui e ali pela tia Mather. Tenho diligentemente pesquisado sobre as circunstâncias do exame [admissional] de Stiles, que foi muito curto, e, até onde eu posso entender, não foi desvantajoso para ninguém que ele tenha sido examinado acerca das Orações de Túlio [Cícero]. Neste [exame], embora ele jamais houvesse feito interpretações antes que viesse a New-Haven, não cometeu nenhum erro neste ou em qualquer outro livro, quer latino, grego ou hebraico, exceto em Virgílio, onde não pôde dizer o preteritum de requiesco. Ele é muito bem tratado entre os estudantes, e aceito na faculdade como membro dela por todos, e também como um calouro; nem, penso eu, é ele inferior quanto ao aprendizado a quaisquer de seus colegas de classe. Questionei o Sr. Cutler acerca de que livros teremos necessidade no próximo ano. Ele respondeu que eu teria que correr contra o tempo [para obter] a Geometria de Alstead e a Astronomia de Gassendus; com as quais lhe rogo que adquira um par de transferidores, ou compassos matemáticos, e uma escala, que são absolutamente necessários para se aprender matemática. Também [preciso] da Arte de Pensar, que, estou persuadido, não seria menos profícua que os outros que são necessários para mim, que sou
Seu muito respeitoso filho,
Jonathan Edwards.
P. S. O que doamos por semana para nossa direção é 5 libras.”

Os hábitos de estudo, que Edwards formou na mais precoce juventude, eram não apenas estritos e severos, e isto em cada ramo da literatura, mas em um aspecto eram singulares. Mesmo quando garoto, ele começou a estudar com a caneta na mão; não com o propósito de copiar os pensamentos dos outros, mas sim de escrever e preservar os pensamentos sugeridos à sua própria mente, a partir do curso de estudo que estava seguindo. Ele iniciou esta prática muito útil em diversos ramos de estudo muito cedo, e continuamente a seguiu em todos os seus estudos durante a vida. Sua pena parece ter estado, em certo sentido, sempre em suas mãos. Desta prática, na qual perseverou continuamente, ele derivou as próprias grandes vantagens de pensar continuamente durante cada período de estudo; de pensar acuradamente; de pensar conectadamente; de pensar habitualmente, em todo tempo; de banir de sua mente todo assunto que não fosse digno de pensamento contínuo e sistemático; de seguir cada objeto de pensamento dado até onde fosse capaz, no feliz momento quando abria se espontaneamente sobre sua mente; de seguir cada assunto posteriormente, em sequência regular, começando novamente do ponto onde havia previamente parado, quando novamente a questão se abria para ele em alguma nova e interessante luz; de preservar seus melhores pensamentos, associações e imagens, e então arranjá-los em seus tópicos apropriados, prontos para uso subsequente; de regularmente fortalecer a faculdade do pensamento e raciocínio por meio de exercício  constante e poderoso; e, acima de tudo, de gradualmente moldar a si mesmo em um ser pensante – um ser que, ao invés de encarar o pensamento e o raciocínio como labor, não podia achar diversão mais elevada senão no pensamento intenso, sistemático e correto.

Nesta visão do assunto, quando lembramos quão poucos estudantes comparativamente, por falta de disciplina mental, ao menos pensam; quão poucos dos que ao menos pensam, pensam habitualmente; quão poucos dos que pensam habitualmente o fazem com propósito; e quão poucos dos que pensam com propósito alcançam a plenitude da medida da estatura, a qual, como seres pensantes, poderiam alcançar; não será motivos de dúvidas que a prática em questão foi o meio principal para o desenvolvimento último de sua superioridade mental.”